terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Viagem pelo ego

Isto de viver no meio de uma vizinhança muito opinativa as vezes tem a sua piada.

Pequenos grupos de homens, um misto de reformados e desempregados, povoam os cafés aqui da rua, verdadeiros malveirões e poetas de algibeira, que não deixam escapar um piropo directo e ordinário ou mandar a sua boca, esta mais discreta, a tudo o que não lhes agrada.

Hoje calhou-me a mim, já tinha eu passado por os seus olhares controladores, quando sou presenteado com "lá vai o roupeiro".

Admito que que deixou um sorriso, a constatação pública de algo que tenho vindo a reparar, o de ocupar praticamente banco e meio no metro, sempre que me aproximo para me assentar as pessoas se encolherem rapidamente e caso haja algum banco vazio chegarem mesmo a trocar.

O facto de andar de calças justa, ajuda a evidenciar o meu estado atual, numa posição normal de pé, de braços caídos ao longo do corpo, os meus dedos, as minhas palmas das mãos, já a muito que deixaram de tocar nas pernas,  ficam  afastadas, uns 5 cm de cada lado.

Não é que dê propriamente valor ao que dizem, já ouvi muitas barbaridades ditas por aquelas bocas, mas fez-me sorrir :-)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Se estás conformado só te falta mesmo ser sepultado.
Mais do que as doenças, mais do que a crise económica, mais do que as derrotas que todos os dias acontecem, o grande drama do mundo é a conformação. A total e absoluta (e triste, tão triste) conformação. A conformação é a ausência de sonhos, a ausência de objectivos, a ausência de projectos, a ausência de vontades: a ausência de revolução. E há cada vez menos revolução no mundo. Se não há revolução podes ser tudo; mas feliz é que não.

O problema do mundo não é a massificação; é a masificação.

A massificação do “mas”. O problema do mundo é linguístico. O problema do mundo não são as convulsões; são as conjunções. A obsessão, diabólica, pelo porém, pelo contudo, pelo todavia. Porém mas é o caralho. Contudo mas é o caralho. Todavia mas é o caralho. Noventa e oito por cento das pessoas dizem “mas” sempre que falam; e as outras duas por cento são felizes. Por mais que tenham dificuldades (e têm tantas, tantas tantas), por mais que por vezes pareça que não vai dar para chegar lá (e são tantas vezes, tantas tantas). Por mais que tudo lhes diga “mas”, há sempre pessoas que não se conformam.

O grande segredo para estares vivo é, por mais evidente que pareça, só morreres quando fores sepultado.

Até lá, tens a obrigação de sonhar, de projectar, de acreditar. Até lá tens a obrigação de tentar. Pelo menos isso: tentar. E nunca é tarde para tentar. 
Se tens oitenta anos e queres ainda sentir o orgasmo melhor da tua vida: vai; tenta. Se tens noventa anos e queres ainda escrever o livro a tua vida: vai; tenta. Se tens cem anos e queres ainda encontrar a mulher que vais amar: vai; tenta. O mais provável até pode ser não o conseguires. Mas só o improvável vale a pena. Até a felicidade, se for previsível, é uma tristeza.

Acreditar no improvável é, provavelmente, a melhor decisão que podes tomar na vida.E ver. Arrisca ver. Ver de verdade. Ver o que só tu consegues ver. Tu vês coisas que mais ninguém vê; eu vejo coisas que mais ninguém vê. Toda a gente vê coisas que mais ninguém vê. E é dessas visões que eu tenho e tu tens que se faz a evolução do mundo. O mundo só avança quando essas visões se transformam em execuções: em actos reais, em matéria palpável. Acreditares no que vês e arriscares apostar no que vês é a única forma de altruísmo que o mundo te dá a executar. Aposta no que é só teu. É só assim que estarás a apostar em tudo o que é nosso.

O mais cego não é o que não vê; nem sequer é o que não quer ver. O mais cego é o que só vê.


Pedro Chagas Freitas


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Promessas ao vento

Prometi a mim mesmo não me preocupar. Já passaram meses deste a última vez que te vi, sem dar por isso saíste da minha vida tão depressa como entraste.

Lembro-me que nevava nesse dia, o teu vulto negro e as tuas palavras amargas foram tudo o que sobrou.

E com elas levaste a minha preocupação por ti, o quer saber, o me importar, o amar.

Restou um vazio, tão negro como a noite que se aproximava, tão puro como a neve que caía.

Essa cratera ficou sempre aberta no meu peito, um vulcão adormecido, mas nao extinto, tão frio como os pequenos flocos que o cobrem agora, vi-te a afastar em passos largos, fechei os olhos, respirei fundo; quando os abri já tinhas desaparecido, nesta escuridão, que agora ,me rodea e que nela te mantens.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Frustrações matinais

O que mais me irrita nem são a quantidade de pessoas nos transportes públicos, já tive de lidar com muitas mais em tempos passados, o que me irrita mesmo, é o ritmo lento e desorganizado delas. O andar em toda a extensão das escadas do metro que te obriga a andar sempre a furar entre elas, a fazer umas ultrapassagens a tangente e umas cotoveladas aqui e ali, percebo que ninguém tem de andar ao meu ritmo, que as pessoas não tenham gosto em ir para o trabalho de manhã, e que tentem atrasar o máximo possível o seu sacrifício, mas como cheguei a ouvir, num desses países mais civilizados, "show walker, move to the right side", há uma falta de civismo evidente, e um egoísmo latente, que me "alegra" o dia todas as manhãs.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

"Bichas" resabiadas e descaradas

Gosto especialmente daqueles gajos que no metro, estão sempre a olhar.te de lado e a evitar olhar directamente, e quando são apanhados mantém um postura arrogante, do gênero "estava a olhar sim, não posso?" voltando a fixar o olhar assim que lhes for novamente possível, outro são as descaradas, que olham para ti nos olhos, não desviam o olhar e sorriem quando são apanhados, sente-se a ansiedade, o quer abordar e nao conseguirem ;-), o "posso-te conhecer?, quero-te conhecer"

Encaro os dois tipos com um sorriso e prossigo viagem.