Não me lembro da última vez que te disse "gosto de ti",
era o nosso ritual de final de dia, antes de apagarmos a luz e virarmo-nos
um para cada lado.
Já não me lembro da última vez que te disse "gosto de
ti", ritual que se perdeu absorvido pelos dias, pela banalidade que a
palavra ganhou, pela repetição, pela perca de significado.
Raramente dissemos "amo-te" sem parecer demasiado
ridículo ou forçado, na verdade nunca nos amamos, usamos nos, para combater a
solidão e a monotonia, por sermos diferentes, por ser tão difícil alguém nos
amar, para nos sentirmos "mais normais", para sentirmos alguma coisa
por outro ser humano, forçamos o amar.
Na verdade, nunca necessitamos um do outro, sempre fomos
demasiado independentes, e diferentes, criamos a ilusão de pertença e de
relação, que nos mudou e consumiu. Nem todos somos feitos para amar.
Nunca nos amamos de verdade e sabemos isso.
Mas, de tempos em tempos, até os monstros gostam de se sentir
amados, sentimento egoísta nem sempre compartilhado.
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